Minha intenção não é fazer um resumo das técnicas de yoga, mas chamar a atenção
para o fato de que através do corpo, nós também podemos influenciar a mente,
afinal, mente, corpo e alma, estão interligados.
O Hatha Yoga acredita que assim como a mente interfere no
corpo, o corpo pode interferir na mente. A mente interfere na postura, no tônus
muscular, no tônus dos músculos internos e na respiração.
Quando recebemos uma notícia ruim, imediatamente mudamos
nossa feição, nossa postura e nossa respiração. Quando estamos preocupados,
nossos músculos ficam contraídos, nossos ombros, cabeça e tronco se projetam
para frente como quem está carregando o mundo nas costas, afinal O TÔNUS EMOCIONAL
E O TÔNUS MUSUCLAR ANDAM JUNTOS.
A mente interfere no corpo de imediato, ou seja, se
levarmos um susto ou se recebermos uma notícia ruim, não só nossos músculos
esqueléticos se contraem, nossa postura e nossa respiração se modificam, mas também
nosso intestino se desarranja e podemos ter ânsia de vomito.
Hatha Yoga é um sistema de técnicas que se baseia no fato
de que o corpo tem a capacidade de influenciar a mente, mas num grau muito mais
sutil e lento, portanto, não tão de imediato. As posturas, ou os asanas, são verdadeiros exercícios
psicofísicos, são padrões posturais. Isto significa dizer que ao ficar num
determinado asana, por um tempo prolongado, em condições de conforto e
estabilidade, conseguiremos fazer com que a mente entre em contato com memórias
que poderão vir à tona como “bolhas emocionais”. A liberação de determinadas
emoções ajudarão o praticante no caminho da meditação. Visto desta forma, asana é um procedimento de purificação.
Mas, as emoções não interferem apenas nos músculos e
postura, interferem também nos órgãos internos. Da mesma forma que podemos
acionar memórias ou traumas que estão gravados no corpo, também podemos remover
perturbações que estão marcadas internamente. Uma vez, numa aula, um aluno me
contou que havia engolido “tantos sapos” naquele dia que sua barriga parecia um
brejo. Para estas tensões, o hatha yoga propõe um conjunto de práticas que
modificam as pressões internas, alongando músculos e estimulando a circulação a
ponto de nos deixar com uma agradável sensação de vazio e amplitude. Estas
práticas pertencem ao grupo dos bandhas.
Vivemos em contato com o mundo pelos
órgãos dos sentidos. Boa parte do que vemos, ouvimos, cheiramos e saboreamos,
nos remete a emoções. Algumas pessoas quando sentem cheiro de flor se lembram
da natureza, outros talvez se lembrem de velório. Alguns sabores no fazem
lembrar da infância, outros podem provocar náuseas. Gostamos de ouvir algumas
músicas porque nos lembramos de uma época ou de alguma pessoa. Enfim, boa parte
de nossas emoções, tem ou tiveram contato com os órgãos dos sentidos e nem
sempre estas “marcas” são boas, muitas vezes guardamos emoções que nos
incomodam e nem sabemos disto. Para que a mente entre em contato com estas
áreas (olhos, nariz e ouvidos) e para que emoções tenham chance de vir à tona,
o Hatha Yoga sugere a prática dos kriyas.
O mecanismo respiratório é, sem dúvida, o mecanismo que
está mais intimamente ligado às emoções. Pessoas que estão com raiva, tem sua
respiração rápida, com predominância inspiratória e torácica, enquanto que
pessoas que estão calmas, tem sua respiração lenta, com predominância abdominal
e expiratória. O grupo de técnicas que o Hatha Yoga propõe para que consigamos
modificar nosso estado emocional através da respiração, chama-se pranayamas. Esta foi a grande “sacada” dos antigos
yogues. Eles descobriram que o mecanismo respiratório tem este duplo comando,
tanto pode ser voluntária como automática e é canal de acesso mais direto para
as emoções.
Desta forma, o hatha yoga quer interferir onde as emoções
interferem. Não para ajustar uma postura, regular o tônus muscular ou fazer com
que respiremos melhor, embora tudo isto vá acontecer, mas para criarmos um
canal de acesso às emoções como forma de purificação e controle, para que o
caminho da meditação fique mais fácil.
A prática de Yoga deve ser sagrada, não só como prática
diária, mas como prática de busca do sagrado, o sagrado de cada um de nós. É
bom que tenhamos um lugar e um momento especial para a nossa prática de Yoga. É
bom que façamos deste momento um verdadeiro ritual. É bom que haja uma pequena
preparação, para que a mente e o “coração” estejam juntos com o corpo,
observando toda a relação entre eles. Só assim podemos tornar a prática uma
prática espiritual.
O fato de termos um momento do dia dedicado ao sagrado, não
significa dizer que o resto do dia é profano. Não estou dizendo que a prática
espiritual só acontece no local de Yoga ou num templo e que fora deles o que
acontece é profano. Às vezes nos esquecemos que o dia a dia é uma boa
oportunidade para pormos em prática a espiritualidade.
Praticamos Yoga para nos tornarmos seres humanos mais
atentos, mais plenos, mais autênticos e mais felizes. Faça do seu dia um dia
sagrado, faça com que seu trabalho seja sagrado, que a refeição seja sagrada,
que seus amigos sejam sagrados, e porque não os inimigos também. Faça com que o
profano se torne sagrado e com que o sagrado se torne profano. Que não haja
distâncias entre a prática e o dia a dia.
Professor Marcos Rojo
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