Palestra com Carlos Henrique Viard Junior
Bem-Aventurança
Felicidade
em ter nascido
Tendo
existido sempre
No
pensamento de Deus
Felicidade
em ter vindo frágil
Dependente
do pai
Dependente
da mãe
Felicidade
em ter sido redimido pelo Cristo
Felicidade
em estar aqui
Entre
irmãos ávidos de Deus
Felicidade
em respirar o Espírito
Que
sopra onde quer
Eraldo
Amay
Namastê!
Qual o significado e a
importância desta saudação?
Num de seus muitos e
iluminados textos, Thich Nhat Hanh, mestre budista vietnamita, conta que em
certas ocasiões saúda seus alunos, antes de iniciar seus ensinamentos, fazendo
uma reverência onde diz: prostro-me diante de futuros seres iluminados.
No início de
praticamente todos os seus divinos discursos, Sathya Sai Baba, avatar dos
nossos tempos, nos chama de: “Encarnações do Amor Divino”.
Costuma-se traduzir o
termo “Namastê” por “O Deus em mim saúda O Deus em você” ou “O espaço sagrado
em mim se faz um com o espaço sagrado em você”. Quando saudamos alguém com
namastê temos consciência do que estamos dizendo? Não só no significado, mas
também no sentimento? Pois deveríamos.
Vemos nos parágrafos
acima que grandes mestres nos saúdam, reconhecendo-nos a partir se sua visão
pura (livres das impurezas que limitam). Eles veem em nós aquilo que ainda não
percebemos em nós mesmo. Eles veem nossa verdadeira realidade, nossa essência.
Saudar conscientemente
um irmão com um namastê pode se tornar uma preciosa prática espiritual, pois
estamos praticando sustentar uma visão elevada. Estamos buscando reconhecer que
Deus está em tudo, que tudo está em Deus, que Deus é tudo!
Olhar desta maneira
pode parecer incoerente para alguns. Mas esta prática tem imenso significado para
aqueles que já compreenderam que através dos sentidos vemos o mundo de maneira
distorcida e que a partir daí tudo que pensamos é engano.
Quando saudamos alguém
com namastê estamos negando que tudo que este alguém aparenta ser é real e
afirmando que essencialmente ele é Deus. Passamos a buscar ver Deus em todos,
inclusive em nós mesmos. Podemos ainda não ter essa realização, mas neste
processo já estamos nos “desidentificando” com aquilo que não somos e isso é
realmente maravilhoso. Quando estivermos totalmente “desidentificados” com o
que não somos, restará a consciência da presença daquilo que somos.
A palavra Yoga quer
dizer união. União da alma individual com a alma universal. União daquilo que
achamos que somos com aquilo que realmente somos. Veremos que de alguma maneira
aquilo que achamos que somos, quando totalmente purificado, se vê como uma
emanação daquilo que somos.Podemos imaginar um raio de sol que por ignorância
acha que é separado do sol, ele acredita ser somente um raio e não reconhece o
sol com sua fonte e seu sustento. Quando descobrir sua verdadeira identidade,
verá que ele mesmo é o sol (um raio de sol não existe separado do sol), tomando
temporariamente a forma de um raio.
Quando praticamos
qualquer tipo de Yoga esta deveria ser nossa aspiração: conhecer nossa
verdadeira identidade. Saber quem realmente somos. Tudo mais, por mais
maravilhoso que seja, é ganho secundário.
Quando falamos em algo
verdadeiro, como nossa verdadeira identidade, estamos nos referindo a algo que
não muda. Pois esta é a definição de verdade: aquilo que sempre permanece. Como
podemos chamar de verdadeiro algo que está em permanente mudança? Olhamos para
um objeto e dizemos:“Este é realmente um relógio”. Pegamos este relógio,
derretemos e fazemos outro objeto. Era absolutamente real o relógio? Neste
contexto sensório, no qual estamos aparentemente presos, toda realidade é
relativa.
Há dois mil anos atrás
Jesus, O Cristo, dizia: “Conheça a verdade e ela vos libertará”. Conheça a
realidade e ela vos libertará da ilusão. Conheça o permanente e ele o libertará
do impermanente.
Qual a relevância deste
ensinamento para nossa vida prática? É imensa a relevância! Por quê? Porque
enquanto ignoramos a verdade que somos e que tudo é, nos apegamos à pseudo-realidade
que vemos e, como consequência, sofremos infindavelmente. Enquanto colocarmos
nossa felicidade em desejos, objetivos, relacionamentos, objetos que pertencem
a um mundo onde tudo é efêmero, sofreremos a dor da perda, da finitude, da ameaça
de não obter. A impermanência é arrebatadora por aqui!
Vejamos a porta de
saída deste mundo de ilusão, pois esta será a porta de entrada para a vida
eterna. Uma vida de verdade! Urge cultivarmos o discernimento. Não só com relação
ao certo e ao errado. Mas fundamentalmente com relação ao eterno e ao
passageiro. Devemos aprender a reconhecer o que é real (permanente) e o que é
falso (impermanente). Este discernimento pode ser o início da prática
espiritual. Você pode, através desta prática, ir deixando se iludir-se com os
prazeres e sentidos (armadilhas) que o mundo lhe oferece, mesmo sem ter ainda
realizado a visão daquilo que é permanente, incessantemente presente, como o
sol para o raio de sol.
Se tudo é impermanente
não é por aqui que encontrarei felicidade permanente, diz alguém com bom senso.
Assim, será que existe a possibilidade de em algum lugar ou de alguma maneira
encontrarmos paz, felicidade e segurança verdadeiras? Sim. Esta é a afirmação
feita por inúmeros seres auto-realizados. Esta é a resposta que encontramos nas
escrituras sagradas de diversas tradições. Este é nosso sentimento mais intimo,
é o sussurro do nosso Ser Verdadeiro que permanentemente nos diz: “Filho volta
para casa e descansa em meus braços”.
Reconhecer a
insegurança decorrente da impermanência pode ser a motivação que faltava para
realmente praticar Yoga. Assim, como raios
de sol impermanentes, retornamos (recobramos a consciência) à fonte solar
permanente.
Reconhecer que tudo é
impermanente nos habilita à prática do desapego. Um desapego sensato e com
objetivo claro. É sensato, pois já sabemos que não faz sentido o apego àquilo
que muda e termina e que isto é escolher sofrer. Apresenta objetivo claro, no
sentido de ser voltado de maneira direta para o reconhecimento do que é
permanente. Isso só é possível quando nos libertamos das amarras aflitivas do
apego ao impermanente.
Quando falo em desapego
não devemos confundir este conceito com deixar de cuidar, deixar de se envolver
ou não ver sentido na vida. Podemos e devemos aproveitar ao máximo todas as
oportunidades que nos são oferecidas nesta vida, mas sabendo que tudo passa. É
sensato aproveitar, rir, chorar... Sem nos apegarmos. Diz o Buda: “Considera
este mundo uma ponte, atravesse-a, mas não construa a sua casa sobre ela”.
Devemos honrar os
compromissos que assumimos, aproveitar as alegrias que esta vida nos oferece,
aprender com as tristezas. Porém, não nos apeguemos a nada disto. A prática do
desapego, além de ser condição fundamental para a yoga, é também de grande
valia para a vida objetiva.
Quando realmente
desapegados, estamos livres do medo, da ansiedade, da raiva, da culpa, da frustração...
Todos estes indesejáveis sintomas de ignorância espiritual são frutos do nosso
apego pelo transitório. Quando nos desapegamos de maneira sensata e inteligente,
descobrimos a felicidade da paz que está sempre presente na ausência de uma
mente agitada e de emoções turbulentas.
Os Vedas (escrituras
sagradas da Índia) nos indicam os quatro objetivos da vida humana. Contemplar
estas ideias e colocá-las em prática transforma nossa jornada de vida, trazendo
sentido e segurança durante a caminhada.
Buscamos segurança
instintivamente. Necessitamos de abrigo, roupas e alimentos. Buscar meios para
satisfação destas necessidades é licito e naturalmente seguimos nesta direção.
Nossa ignorância e falta de fé em relação ao Ser que a tudo criou e que está
incessantemente presente ordenando tudo, nos faz muitas vezes nos sentir
desamparados e com medo de uma possível escassez ou falta. Quando olhamos todos
os demais reinos na terra (mineral, vegetal e animal) vemos esta ordem perfeita
operando. Porque com o reino humano seria diferente?
Quando estivermos em
estado de Yoga, isto é, conectados com este Ser, que é nossa realidade interna,
perceberemos que não há necessidade de esforço para obter o que é essencial. É
preciso simplesmente que conheçamos a ordem natural do funcionamento das coisas
e nos harmonizemos com ela.
Depois que obtemos
alguma segurança, tendemos imediatamente a buscar a realização dos nossos
desejos. E por ignorância achamos que este é o verdadeiro objetivo da vida. Vale
lembrar de tudo que já contemplamos sobre o apego. Passamos a viver buscando
obter todo tipo de prazer e evitar todo tipo de sofrimento. É muito importante
aprendermos a identificar quais dos nossos desejos estão alinhados como o Dharma,
pois estes deverão ser valorizados.
Dharma pode ser
traduzido por lei, aquilo que sustenta, ensinamentos, ação correta. Existe uma
lei que ordena todo universo. A palavra “ universo” pode ser compreendida como
a unidade manifesta através de todos os versos. Este universo, no qual estamos
inseridos, aparenta ser uma multiplicidade de nomes e forma, mas afirmam as
escrituras que é O Ser Real (O Uno) se manifestando através de inúmeras
formas(os versos). O sol irradia seus raios e ao mesmo tempo está incessantemente
presente neles. Não há separação alguma.
Tudo opera a partir de
uma inteligência que não falha, pois é perfeita. Esta inteligência está em nós.
Mas, ignorando nosso Ser Interno e apegados à mente pensante, desviamo-nos da
forma naturalmente correta de agir.
Vemos toda criação agindo
em prol do equilíbrio. É uma imensa cooperação mútua entre tudo que existe. A
ordem é perfeita. Tudo funcionando de acordo com o Dharma (aquilo que
sustenta). Em nós, seres- humanos, surge um poderoso instrumento chamado mente.
A mente humana deveria seguir sempre norteada pelo Dharma, mas não é isso que
acontece.
Esquecemos quem
realmente somos quando essa mente se identifica com o corpo e com o mundo
externo. Nos sentimos, equivocadamente, separados e, conseqüentemente, frágeis.
Na busca por segurança e prazer não respeitamos o darma, geramos desequilíbrio
e sofrimento.
Quando um ser se auto- realiza,
reconhece sua verdadeira identidade, passa a viver em Dharma. Toda grande tradição
espiritual surge a partir de um ser realizado e se estudarmos a essência das
variadas escrituras veremos que existe muito em comum. Isso acontece por todos
terem acessado a mesma realidade e sua lei única.
Logo, podemos concluir
que necessariamente vamos nos envolver na busca por segurança e realização dos
desejos, não há nada de errado neste envolvimento, desde que estejamos sendo
norteados pelo Dharma, a lei divina. Para isso, temos que desenvolver a
capacidade refletir, silenciar, sermos coerentes.
Até aqui encontramos
uma maneira mais lúcida e equilibrada de viver a vida, evitando causar damos
para nós mesmos e os demais seres. Mas, ainda não resolvemos a questão de como
lidar com a impermanência. Por mais corretos que sejam nossos pensamentos e ações,
ainda nos deparamos com as aflições do envelhecimento, adoecimento e a morte.
A impermanência segue
implacável. Mas a prática do Dharma nos traz maturidade emocional. Livres de
angústias com relação ao sustento e livres da instintiva busca pela obtenção de
prazeres, geramos uma clareza mental que não acessávamos antes. Já percebemos o
mundo de maneira diferente. Depois de conquistarmos todas essas etapas, estamos
prontos, e necessitados espiritualmente, para passar a seguinte: a busca pela
liberação.
Neste ponto iniciamos
realmente nossa caminhada espiritual. Buscamos conscientemente a liberação.
Liberação da falsa noção de sermos limitados, efêmeros, frágeis. Surge um
ardente desejo de conhecer a realidade, aquilo que permanece quando tudo mais
desaba, aquilo que segue quando tudo termina.
Assim se inicia nossa
busca pelo guru. Agora estamos prontos para receber seus ensinamentos e
segui-los. Estamos prontos para realmente aproveitar esta incrível e preciosa
oportunidade chamada vida humana.
Sem apegos por
reconhecer que tudo é impermanente, assumindo nossas responsabilidades através
da ação dhármica e reconhecendo que a felicidade completa e duradoura não se
encontra por aqui, vamos além!
Orientados pelos
ensinamentos dos mestres, pelas escrituras e por nossos corações, veremos todo
universo operando a nosso favor. Entramos na ordem cósmica. Somos levados a
caminhar de mãos dadas com Deus. Descobrimos que esse Deus presente em tudo é
nosso Ser real e é puro amor.
Somos a luz clara,
constante e amorosa a iluminar o caminho de todos, que como nós em outros
tempos, ainda não enxergam o real que são.
Acreditem: “Vós sois a
luz do mundo”.
Carlos Henrique Viard Junior – em
18 de janeiro de 2013
Entrego
estas reflexões aos Divinos Pés de Lótus do meu Amado Guru Bhagawan Sri Sathya
Sai Baba
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