segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Vida Humana – Uma Oportunidade Preciosa

 Palestra com Carlos Henrique Viard Junior


Bem-Aventurança

Felicidade em ter nascido
Tendo existido sempre
No pensamento de Deus

Felicidade em ter vindo frágil
Dependente do pai
Dependente da mãe

Felicidade em ter sido redimido pelo Cristo

Felicidade em estar aqui
Entre irmãos ávidos de Deus

Felicidade em respirar o Espírito
Que sopra onde quer

Eraldo Amay


Namastê!

Qual o significado e a importância desta saudação?

Num de seus muitos e iluminados textos, Thich Nhat Hanh, mestre budista vietnamita, conta que em certas ocasiões saúda seus alunos, antes de iniciar seus ensinamentos, fazendo uma reverência onde diz: prostro-me diante de futuros seres iluminados.

No início de praticamente todos os seus divinos discursos, Sathya Sai Baba, avatar dos nossos tempos, nos chama de: “Encarnações do Amor Divino”.

Costuma-se traduzir o termo “Namastê” por “O Deus em mim saúda O Deus em você” ou “O espaço sagrado em mim se faz um com o espaço sagrado em você”. Quando saudamos alguém com namastê temos consciência do que estamos dizendo? Não só no significado, mas também no sentimento? Pois deveríamos.

Vemos nos parágrafos acima que grandes mestres nos saúdam, reconhecendo-nos a partir se sua visão pura (livres das impurezas que limitam). Eles veem em nós aquilo que ainda não percebemos em nós mesmo. Eles veem nossa verdadeira realidade, nossa essência.

Saudar conscientemente um irmão com um namastê pode se tornar uma preciosa prática espiritual, pois estamos praticando sustentar uma visão elevada. Estamos buscando reconhecer que Deus está em tudo, que tudo está em Deus, que Deus é tudo!
Olhar desta maneira pode parecer incoerente para alguns. Mas esta prática tem imenso significado para aqueles que já compreenderam que através dos sentidos vemos o mundo de maneira distorcida e que a partir daí tudo que pensamos é engano.

Quando saudamos alguém com namastê estamos negando que tudo que este alguém aparenta ser é real e afirmando que essencialmente ele é Deus. Passamos a buscar ver Deus em todos, inclusive em nós mesmos. Podemos ainda não ter essa realização, mas neste processo já estamos nos “desidentificando” com aquilo que não somos e isso é realmente maravilhoso. Quando estivermos totalmente “desidentificados” com o que não somos, restará a consciência da presença daquilo que somos.

A palavra Yoga quer dizer união. União da alma individual com a alma universal. União daquilo que achamos que somos com aquilo que realmente somos. Veremos que de alguma maneira aquilo que achamos que somos, quando totalmente purificado, se vê como uma emanação daquilo que somos.Podemos imaginar um raio de sol que por ignorância acha que é separado do sol, ele acredita ser somente um raio e não reconhece o sol com sua fonte e seu sustento. Quando descobrir sua verdadeira identidade, verá que ele mesmo é o sol (um raio de sol não existe separado do sol), tomando temporariamente a forma de um raio.

Quando praticamos qualquer tipo de Yoga esta deveria ser nossa aspiração: conhecer nossa verdadeira identidade. Saber quem realmente somos. Tudo mais, por mais maravilhoso que seja, é ganho secundário.

Quando falamos em algo verdadeiro, como nossa verdadeira identidade, estamos nos referindo a algo que não muda. Pois esta é a definição de verdade: aquilo que sempre permanece. Como podemos chamar de verdadeiro algo que está em permanente mudança? Olhamos para um objeto e dizemos:“Este é realmente um relógio”. Pegamos este relógio, derretemos e fazemos outro objeto. Era absolutamente real o relógio? Neste contexto sensório, no qual estamos aparentemente presos, toda realidade é relativa.

Há dois mil anos atrás Jesus, O Cristo, dizia: “Conheça a verdade e ela vos libertará”. Conheça a realidade e ela vos libertará da ilusão. Conheça o permanente e ele o libertará do impermanente.

Qual a relevância deste ensinamento para nossa vida prática? É imensa a relevância! Por quê? Porque enquanto ignoramos a verdade que somos e que tudo é, nos apegamos à pseudo-realidade que vemos e, como consequência, sofremos infindavelmente. Enquanto colocarmos nossa felicidade em desejos, objetivos, relacionamentos, objetos que pertencem a um mundo onde tudo é efêmero, sofreremos a dor da perda, da finitude, da ameaça de não obter. A impermanência é arrebatadora por aqui!

Vejamos a porta de saída deste mundo de ilusão, pois esta será a porta de entrada para a vida eterna. Uma vida de verdade! Urge cultivarmos o discernimento. Não só com relação ao certo e ao errado. Mas fundamentalmente com relação ao eterno e ao passageiro. Devemos aprender a reconhecer o que é real (permanente) e o que é falso (impermanente). Este discernimento pode ser o início da prática espiritual. Você pode, através desta prática, ir deixando se iludir-se com os prazeres e sentidos (armadilhas) que o mundo lhe oferece, mesmo sem ter ainda realizado a visão daquilo que é permanente, incessantemente presente, como o sol para o raio de sol.

Se tudo é impermanente não é por aqui que encontrarei felicidade permanente, diz alguém com bom senso. Assim, será que existe a possibilidade de em algum lugar ou de alguma maneira encontrarmos paz, felicidade e segurança verdadeiras? Sim. Esta é a afirmação feita por inúmeros seres auto-realizados. Esta é a resposta que encontramos nas escrituras sagradas de diversas tradições. Este é nosso sentimento mais intimo, é o sussurro do nosso Ser Verdadeiro que permanentemente nos diz: “Filho volta para casa e descansa em meus braços”.

Reconhecer a insegurança decorrente da impermanência pode ser a motivação que faltava para realmente praticar Yoga.  Assim, como raios de sol impermanentes, retornamos (recobramos a consciência) à fonte solar permanente.

Reconhecer que tudo é impermanente nos habilita à prática do desapego. Um desapego sensato e com objetivo claro. É sensato, pois já sabemos que não faz sentido o apego àquilo que muda e termina e que isto é escolher sofrer. Apresenta objetivo claro, no sentido de ser voltado de maneira direta para o reconhecimento do que é permanente. Isso só é possível quando nos libertamos das amarras aflitivas do apego ao impermanente.

Quando falo em desapego não devemos confundir este conceito com deixar de cuidar, deixar de se envolver ou não ver sentido na vida. Podemos e devemos aproveitar ao máximo todas as oportunidades que nos são oferecidas nesta vida, mas sabendo que tudo passa. É sensato aproveitar, rir, chorar... Sem nos apegarmos. Diz o Buda: “Considera este mundo uma ponte, atravesse-a, mas não construa a sua casa sobre ela”.
Devemos honrar os compromissos que assumimos, aproveitar as alegrias que esta vida nos oferece, aprender com as tristezas. Porém, não nos apeguemos a nada disto. A prática do desapego, além de ser condição fundamental para a yoga, é também de grande valia para a vida objetiva.

Quando realmente desapegados, estamos livres do medo, da ansiedade, da raiva, da culpa, da frustração... Todos estes indesejáveis sintomas de ignorância espiritual são frutos do nosso apego pelo transitório. Quando nos desapegamos de maneira sensata e inteligente, descobrimos a felicidade da paz que está sempre presente na ausência de uma mente agitada e de emoções turbulentas.

Os Vedas (escrituras sagradas da Índia) nos indicam os quatro objetivos da vida humana. Contemplar estas ideias e colocá-las em prática transforma nossa jornada de vida, trazendo sentido e segurança durante a caminhada.

Buscamos segurança instintivamente. Necessitamos de abrigo, roupas e alimentos. Buscar meios para satisfação destas necessidades é licito e naturalmente seguimos nesta direção. Nossa ignorância e falta de fé em relação ao Ser que a tudo criou e que está incessantemente presente ordenando tudo, nos faz muitas vezes nos sentir desamparados e com medo de uma possível escassez ou falta. Quando olhamos todos os demais reinos na terra (mineral, vegetal e animal) vemos esta ordem perfeita operando. Porque com o reino humano seria diferente?

Quando estivermos em estado de Yoga, isto é, conectados com este Ser, que é nossa realidade interna, perceberemos que não há necessidade de esforço para obter o que é essencial. É preciso simplesmente que conheçamos a ordem natural do funcionamento das coisas e nos harmonizemos com ela.

Depois que obtemos alguma segurança, tendemos imediatamente a buscar a realização dos nossos desejos. E por ignorância achamos que este é o verdadeiro objetivo da vida. Vale lembrar de tudo que já contemplamos sobre o apego. Passamos a viver buscando obter todo tipo de prazer e evitar todo tipo de sofrimento. É muito importante aprendermos a identificar quais dos nossos desejos estão alinhados como o Dharma, pois estes deverão ser valorizados.

Dharma pode ser traduzido por lei, aquilo que sustenta, ensinamentos, ação correta. Existe uma lei que ordena todo universo. A palavra “ universo” pode ser compreendida como a unidade manifesta através de todos os versos. Este universo, no qual estamos inseridos, aparenta ser uma multiplicidade de nomes e forma, mas afirmam as escrituras que é O Ser Real (O Uno) se manifestando através de inúmeras formas(os versos). O sol irradia seus raios e ao mesmo tempo está incessantemente presente neles. Não há separação alguma.

Tudo opera a partir de uma inteligência que não falha, pois é perfeita. Esta inteligência está em nós. Mas, ignorando nosso Ser Interno e apegados à mente pensante, desviamo-nos da forma naturalmente correta de agir.

Vemos toda criação agindo em prol do equilíbrio. É uma imensa cooperação mútua entre tudo que existe. A ordem é perfeita. Tudo funcionando de acordo com o Dharma (aquilo que sustenta). Em nós, seres- humanos, surge um poderoso instrumento chamado mente. A mente humana deveria seguir sempre norteada pelo Dharma, mas não é isso que acontece.

Esquecemos quem realmente somos quando essa mente se identifica com o corpo e com o mundo externo. Nos sentimos, equivocadamente, separados e, conseqüentemente, frágeis. Na busca por segurança e prazer não respeitamos o darma, geramos desequilíbrio e sofrimento.

Quando um ser se auto- realiza, reconhece sua verdadeira identidade, passa a viver em Dharma. Toda grande tradição espiritual surge a partir de um ser realizado e se estudarmos a essência das variadas escrituras veremos que existe muito em comum. Isso acontece por todos terem acessado a mesma realidade e sua lei única.

Logo, podemos concluir que necessariamente vamos nos envolver na busca por segurança e realização dos desejos, não há nada de errado neste envolvimento, desde que estejamos sendo norteados pelo Dharma, a lei divina. Para isso, temos que desenvolver a capacidade refletir, silenciar, sermos coerentes.

Até aqui encontramos uma maneira mais lúcida e equilibrada de viver a vida, evitando causar damos para nós mesmos e os demais seres. Mas, ainda não resolvemos a questão de como lidar com a impermanência. Por mais corretos que sejam nossos pensamentos e ações, ainda nos deparamos com as aflições do envelhecimento, adoecimento e a morte.

A impermanência segue implacável. Mas a prática do Dharma nos traz maturidade emocional. Livres de angústias com relação ao sustento e livres da instintiva busca pela obtenção de prazeres, geramos uma clareza mental que não acessávamos antes. Já percebemos o mundo de maneira diferente. Depois de conquistarmos todas essas etapas, estamos prontos, e necessitados espiritualmente, para passar a seguinte: a busca pela liberação.

Neste ponto iniciamos realmente nossa caminhada espiritual. Buscamos conscientemente a liberação. Liberação da falsa noção de sermos limitados, efêmeros, frágeis. Surge um ardente desejo de conhecer a realidade, aquilo que permanece quando tudo mais desaba, aquilo que segue quando tudo termina.

Assim se inicia nossa busca pelo guru. Agora estamos prontos para receber seus ensinamentos e segui-los. Estamos prontos para realmente aproveitar esta incrível e preciosa oportunidade chamada vida humana.

Sem apegos por reconhecer que tudo é impermanente, assumindo nossas responsabilidades através da ação dhármica e reconhecendo que a felicidade completa e duradoura não se encontra por aqui, vamos além!

Orientados pelos ensinamentos dos mestres, pelas escrituras e por nossos corações, veremos todo universo operando a nosso favor. Entramos na ordem cósmica. Somos levados a caminhar de mãos dadas com Deus. Descobrimos que esse Deus presente em tudo é nosso Ser real e é puro amor.

Somos a luz clara, constante e amorosa a iluminar o caminho de todos, que como nós em outros tempos, ainda não enxergam o real que são. 

Acreditem: “Vós sois a luz do mundo”.

Carlos Henrique Viard Junior – em 18 de janeiro de 2013
Entrego estas reflexões aos Divinos Pés de Lótus do meu Amado Guru Bhagawan Sri Sathya Sai Baba


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