Quando um
ser humano cria uma obra de arte, em última análise, exprime seu pensamentos,
seu sentimento, seu élan criador, sua inspiração, todo o seu eu, na matéria
plasmável, nos sons ou nas cores. Uma obra de arte vale pelas qualidades do
espírito que se exprimiu e também pela fidelidade com que a técnica
possibilitou tal expressão.
Ao criar artisticamente, o homem assemelha-se ao Criador, e então
experimenta infiniutde, perfeição e intensa emoção. algumas artes humanas mais
do que outras são capazes de avizinhar o homem de Deus. As que mais se
assemelham à divina arte de criar universos são: a) aquelas que consistem em
transformar em cosmos aquilo que anteriormente era um caos, tal como Deus o
fez; b) aquelas em que o artista está imanente na obra, pois Deus também
imanente no mundo; e c) aquelas em que o espírito criador não é diferente da
matéria plasmável através da qual ele se expressa, pois, também Deus, por seu
espírito (Purusha), modelou, ordenou e vivificou seu próprio corpo (Prakriti),
a natureza.
A arte dos ásanas é por excelência uma das que nos fazem
semelhantes ao Criador, pois consiste, quando perfeita, em plasmar “com o
corpo” o modelo que amente concebe e o sentimento anima. Quando em ásana, o
espírito, que é o obreiro, confunde-se com o corpo, que é a própria obra. O
praticante é então causa material e simultaneamente causa eficiente.
Segundo o filósofo brasileiro Farias Brito, o universo é Deus
pensando. Em verdade, as leis que regem os fenômenos e a ordem que sustenta sua
multifária estrutura imensa nos revelam a mente de Deus. Tanto assim é que se
Ele deixasse de pensar no universo, este se extinguiria, retornando ao
primitivo caos. Também sob esse aspecto, o praticante de ásanas deve imitar seu
Criador. enquanto sustenta determinada pose, deve nela pensar. Deve pensar ou
na disposição e estado de seus músculos, órgãos e articulações, ou no modelo
mental que expressa, ou nas consequências psicossomáticas dela decorrentes.
...Em resumo, um ásana, apesar de parecer simplesmente uma atitude
do corpo, é muito mais do que isso, é uma expressão do homem holístico,
manifestando-o em todos os seus níveis: no corpo, no pensamentos, na emoção, na
ação, no corpo sutil e no espírito.
Assim como um ásana expressa um determinado estado de alma,
reciprocamente, com o aperfeiçoamento desta arte, ao assumir determinado ásana,
o praticante é induzido ao estado psicológico a ela ligado, como se fosse um
psicotrópico, isto é, algo capaz de mover (trópico) a alma (psiquê).
A arte dos ásanas, com já vimos, é uma imitação da cosmogênese,
mas também pode assemelhar-se à dança clássica. Como no balé, seus movimentos
são harmoniosos, bonitos, lentos, suaves e leves. Ao iniciar o aprendizado, o
praticante não consegue naturalmente movimentação harmônica, devido à rigidez
do corpo sem treino. Lentidão, suavidade e elveza também só com o progresso vão
sendo alcançadas. Tais atributoas dependem do grau de relaxamento a que se vai
podendo submeter as partes anatômicas não envolvidas em cada postura.
Em virtude de admiravelmente afetar a vida orgânica, os ásanas são
remédios para muitos males, mas exatamente pelo mesmo motivo, podem também
danificar o corpo e acarretar distúrbios, se incorretamente executados, Assim é
prudente que o praticante siga as instruções relativas a cada um e que atenda à
exata dosagem, prevista nos programas semanais.
SURYANAMASKAR OU SAUDAÇÃO AO SOL
Entre os hindus, a “saudação ao sol (Surya é o sol)” é uma
reverência ao astro-rei que nasce. Exercício de exótica beleza plástica,
constitui preparo para os demais ásanas, em virtude de movimentar as várias
seções da coluna, as pernas, os braços e os músculos abdominais.
Professor Hermógenes (Autoperfeição com Hatha-Yoga, p. 133)
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