sábado, 20 de agosto de 2011

O Poder do Perdão

Quando eu (Jean-Yves Leloup) era um jovem padre e morava no interior da França, todos os domingos levava uma senhora paralítica a missa. Ela era portadora de esclerose em placas. Um dia contou-me do ódio que nutria pela mãe porque a tinha impedido de casar-se com o homem que amava, e, apesar disso, passara a vida inteira cuidando da mãe, ocupando-se dela.  Apesar de exteriormente comportar-se como uma mulher respeitável e admirável, dizia-me que em seu interior só havia raiva. A dureza de seu coração impregnara seu corpo, transformando-o em um corpo rígido e paralisado. Assim, as doenças psicossomáticas têm, às vezes, uma origem espiritual.
Disse a esta senhora: "Já que você é cristã pode perdoar sua mãe". Tornou-se encolerizada e, com uma raiva muito densa e muito íntima, respondeu-me: "Não, não, jamais a perdoarei. Minha mãe impediu-me de viver, o que sinto por ela é um veneno que levarei ao túmulo". Neste momento compreendi o meu erro e lhe disse: "Você têm razão. O que você viveu é imperdoável. Você não pode perdoar quem a impediu de viver. Mas pense, creia, O Cristo que existe em você pode perdoá-la". Atualmente eu lhe diria: "O ego não pode perdoar: não se deve tentar perdoar com o ego. Entretanto, talvez o Self possa perdoar. Talvez haja dentro de nós uma dimensão maior que nós mesmos, mais inteligente que nós mesmos, que pode compreender e perdoar". Passaram-se cinco longos minutos. Em dado momento vi uma lágrima correr pela face daquela senhora. Ela chorou, chorou muito. Levantou-se da cadeira de rodas e saiu andando de seu quarto. Há mais de quarenta anos não chorava, há mais de dez anos não andava. Esse é o milagre do perdão.

Jean-Yves Leloup - Além da Luz e da sombra - Ed. Vozes

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