Texto do Livro YOGA - INSPIRANDO PAZ. EXPIRANDO AMOR (Carlos Henrique Viard Junior)
Não podemos pensar em caminho espiritual sem
destacarmos os princípios da paz, do amor e da compaixão. Quando fazemos votos
de despertarmos essas qualidades em nós, naturalmente vamos buscar tornar-nos
uma benção para todos os seres, espalhando felicidade em todas as direções, não
causando sofrimento a ser algum. Sai Baba resume tal aspiração numa pequena,
mas grandiosa, frase: “Ajudar sempre, ferir jamais”.
Num primeiro momento, pode parecer impossível a
realização dessa orientação, (“Ajudar sempre, ferir jamais”), pois as palavras
“sempre” e “jamais” geram a ideia de que nunca estaremos ao alcance de tal
realização. Não podemos, porém, durante a caminhada, esquecer que
espiritualidade, Yoga, é um encontro com Deus. É o despertar da Consciência
Divina em nós. Ela é essencialmente amorosa e pacífica e, uma vez desperta,
preenche todo nosso ser de amor e compaixão. Assim, quando pensarmos, falarmos
e agirmos, teremos como intenção ajudar sempre e o máximo cuidado em jamais
ferir.
Lembremos que a Força Divina tudo pode. Não
meçamos essa força a partir dos nossos parâmetros humanos.
Entreguemo-nos a ela e deixemo-la agir livremente através de nós. Sigamos o
exemplo de Jesus, que disse: “De mim mesmo nada posso fazer; quem realiza as
obras é o Pai, que está em mim”. Sigamos também sua sublime orientação ao
dizer: “Seja perfeito como é perfeito o Pai Celestial”. E, por fim, seguindo o
caminho ensinado pelo Mestre, poderemos afirmar como Ele afirmou: “Eu e o Pai
somos Um!”. Conquistaremos o que a Yoga tem a oferecer-nos.
Na jornada do humano ao divino, despertar a
consciência interna é nossa meta. Faz parte do método para alcançar a
meta tornarmo-nos pacificadores, amorosos e compassivos. À medida que vamos
purificando nossos corações, o esforço vai tornando-se desnecessário, vamos
percebendo essas qualidades brotando da fonte pura que é nossa divindade
interior.
Então caminhamos na direção de Deus, rumo ao
nosso ser interior. Buscamos a Verdade. Levantamos as bandeiras da paz,
do amor e da compaixão! Sua Santidade, O Dalai Lama, considerado pela tradição
do budismo tibetano como uma emanação da compaixão, define-a como “nossa
incapacidade de ficar alheio ao sofrimento do outro”. E se existe alguma coisa
de que o amor não é capaz é justamente esta: ele não pode ficar alheio ao
sofrimento. Pois, se o fizesse, estaria contrariando a sua própria natureza,
que é “ajudar sempre”.
Albert Schweitzer, indo ao encontro dessas ideias,
define a ética humana da seguinte forma: “Um homem é verdadeiramente ético apenas
quando obedece à sua compulsão para ajudar toda a vida que ele é capaz de
assistir e evita ferir todas as coisas que
vivem”. Podemos sentir, em nossos corações, a verdade contida nessa afirmação. Mas possuímos uma tendência que limita nossa ação pacificadora, pode fazer com que ajamos sem amor e esqueçamos totalmente a compaixão. Albert Schweitzer também ensina que “o erro da ética, até o momento, tem sido a crença de que só se deva aplicá-la em relação aos homens”.
vivem”. Podemos sentir, em nossos corações, a verdade contida nessa afirmação. Mas possuímos uma tendência que limita nossa ação pacificadora, pode fazer com que ajamos sem amor e esqueçamos totalmente a compaixão. Albert Schweitzer também ensina que “o erro da ética, até o momento, tem sido a crença de que só se deva aplicá-la em relação aos homens”.
Em nossa jornada humana, buscamos, cada vez
mais, desenvolver o amor e a compaixão por nossos irmãos humanos. No entanto,
como já vimos, o verdadeiro amor é incondicional e ilimitado, deve abranger
todos os seres, toda a criação. Lembremos que não buscamos aqui uma teoria que
nos mantenha na área de conforto, mas a verdade que liberta. O yogue deve fazer
votos de ter coerência de pensamento, palavra e ação. Nossos pensamentos
devem estar sempre de acordo com nosso coração.
Gostaria de sugerir, assim, uma reflexão
sobre como nos relacionamos com o reino animal. Nesse relacionamento, somos
amorosos e compassivos? Pois é esse nosso objetivo por aqui: revelar amor e
compaixão ilimitados. Como tratamos os animais? Seríamos capazes de fazer algum
mal eles?
Acredito que você tenha o desejo sincero de ver
todo o reino animal feliz. Acredito, também, que você se sinta mal
somente em pensar em gerar sofrimento para qualquer ser do reino animal. Nosso
coração nos diz, no silêncio, que devemos “ajudar sempre, ferir jamais”. De
nosso coração emanam amor e compaixão. Pensamentos de impingir dor estão
em desacordo com nosso coração, e, por isso, só de pensarmos em gerar sofrimento,
sentimo-nos mal. Mas, mesmo assim, muitos de nós, por falta de atenção (e,
consequentemente, insensibilidade), somos responsáveis pelo sofrimento
intensivo de milhares de seres do reino animal. Todos os dias. Para justificar
essa dura afirmação, pergunto-lhe se você ainda come carne.
Não temos como negar que a alimentação
carnívora promove extremo sofrimento a nossos irmãos animais. Diariamente, a
matança deles produz rios de sangue. Vacas, porcos, aves, peixes e muitos
outros são submetidos a uma vida de privações e dor desde o nascimento até o
momento do abate. Quantos de nós conseguiríamos sentir, num abatedouro, a mesma
paz e tranquilidade que sentimos num ambiente de animais soltos e bem
tratados? Como nos sentiríamos visitando um abatedouro?
É muito importante encararmos a verdade.
No caminho espiritual, temos de ser absolutamente sinceros! Os abatedouros só
existem por uma única razão: há consumidores da carne dos animais mortos ali.
Logo, todos que comem carne patrocinam essa tragédia diária. A
alimentação carnívora, não é, portanto, compatível com os princípios do amor e
da compaixão. Se você ainda come qualquer tipo de carne, por amor, vença
esse hábito.
Quando olhamos de frente essa situação, algo se
revela em nós, dizendo-nos que devemos superar o hábito de comer carne.
Esse algo é o amor, a voz do nosso coração. Mas também percebemos, em nós,
outra voz que nos sugere continuarmos com ele, ignorando nosso coração. É
a voz de nosso egoísmo, do apego ao prazer, da ignorância. Lembremo-nos de
que o egoísmo sempre surge disfarçado de sabedoria. Logo surgirá dele uma
teoria que justifique a alimentação carnívora e ela será muito convincente. Mas
o que diz seu coração?
São muitas as
motivações que devem levar-nos a abandonar o consumo de qualquer tipo de carne.
Citarei apenas quatro, embora possa enumerar muitas mais.
- Despertar
o amor e a compaixão
Sendo o amor concretizado por “ajudar sempre e
ferir jamais”; sendo a compaixão definida como “nossa incapacidade de ficarmos
alheios ao sofrimento do outro (todos os outros)”, abandonar o hábito da
alimentação carnívora tornar-se-á uma ação verdadeiramente amorosa
e compassiva.
- Vencer
o medo que é gerado a partir da ignorância
Muitos se alimentam de carne pela crença de
que, sem ela, não obteríamos os nutrientes essenciais para manter-nos saudáveis
e fortes. Esta crença é absolutamente errada. Existem inúmeros outros tipos de
alimentos capazes de substituir todos os nutrientes oferecidos pela carne.
Consulte um bom nutricionista e certamente será orientado sobre como preparar
sua nova dieta. O medo, às vezes, é tão grande que obscurece totalmente nosso
discernimento e faz-nos seguir na contramão do amor. Existem famílias
(inclusive as crianças) que, desde muitas gerações, não ingerem carne, e
seus membros caracterizam-se por terem saúde forte e longevidade.
- Libertação
do apego ao prazer
Em nossa cultura, o hábito da alimentação
carnívora é muito arraigado. Muitas vezes, está relacionado a momentos de
comemoração. Ao comer carne, é comum sentirmos, por meio do paladar, grande
prazer e, na dimensão mental, grande sentimento de alegria. Um dos maiores
obstáculos para deixarmos esse hábito que implica sofrimento extremo para os
animais, fazendo-nos responsáveis por isso, é justamente o apego ao
prazer. O apego faz tanto barulho em nossa mente que não nos deixa mais ouvir o
coração. Abafa o amor. Não é nossa inteligência que escolhe manter esse
tipo de alimentação, mas sim nosso condicionamento, nossas energias de hábito.
Quando escolhemos deixar para trás um hábito tão arraigado como esse, estamos
começando a trilhar o caminho da liberdade! Somente o Amor será capaz de
dar-nos a libertação!
- Favorecer
as próximas gerações
Hoje, a produção de carne está devastando o
planeta. As florestas são desmatadas para construção de pastos e para plantação
daquilo que virá a ser o alimento dos animais que viverão infelizes por lá.
Esses milhões de seres, tratados como produtos, gastarão milhares de litros de
água do momento em que nascem até a hora da morte. Durante a vida, naturalmente
urinam, defecam e soltam gazes, tornando-se uma bomba para o planeta, pela
quantidade desmedida de animais que é “produzida” diariamente. Também por amor
ao planeta, às florestas, à vida e às futuras gerações, devemos parar, o quanto
antes, de comer qualquer tipo de carne.
Esse apelo brota do fundo de meu coração.
Não tenho a intenção de rotular os vegetaríamos como amorosos e os não
vegetarianos como não amorosos. Isso seria um absurdo. Conheço pessoas
que comem carne e são extremamente generosas, bondosas, amorosas, revelando
ainda outras valiosas virtudes. Aprendo muito com essas pessoas. E
conheço alguns vegetarianos que são pessoas de difícil convivência. Quero
dizer, assim, que ser ou não vegetariano não define o caráter de ninguém.
Acredito, porém, que quem ainda se
alimenta de carne está num estado de desatenção. Não olha profundamente para as
consequências de seu hábito. De maneira alguma, é mal-intencionado. Aqui,
sinceramente, não faço o julgamento de pessoa alguma, porém avalio o hábito de
comer a carne dos animais e seus desdobramentos, as forças internas que
sustentam esse hábito e o quanto as qualidades essências do nosso ser
verdadeiro se tornam obscurecidas enquanto praticamos este tipo de alimentação.
Minha intenção ao expor essas ideias é
despertar a consciência. Esse processo é sempre de dentro para fora. Peço que
você acolha essas ideias e pergunte a seu coração o que fazer com elas. Siga
sua orientação interior.
“Pela moderação e modulação dos
hábitos de comer e beber podem-se estabelecer as bases para uma vida
espiritual. Você deve preferir os alimentos sátvicos (puros e vegetarianos) aos
alimentos rajásicos. Ao ingerir bebidas inebriantes, a pessoa perde o controle
sobre suas emoções, paixões, impulsos, instintos, fala e movimentos e desce ao
nível de uma fera. Ao comer carne, a pessoa desenvolve tendências violentas e
doenças de animais. A mente torna-se mais intratável quando a pessoa se entrega
à comida rajásica. É difícil remodelar a mente se tal alimento é consumido com
prazer. Para habitar em Deus, a pessoa deve ser vigilante sobre a comida e a
bebida consumidas, tanto pelo corpo como pela mente”.
Sathya Sai Baba
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